A mulher despedia-se sem olhar para trás.
Talvez lhe tenha ficado o hábito pelas tantas vezes que teve que dizer adeus. Ainda se lembra da última, era uma criança, a dor que assomava na garganta e pesava no peito era tão imensa que ainda hoje sente o frio. Porventura era desmesurada para um coração tão pequenino; a partir desse momento não recorda mais. Pode ter encoberto essas lembranças porque o frio das despedidas teimava em ficar por lá mesmo se o olhar abandonava o momento; é mesmo provável que esta seja a pele que vestiu sobre a sua para se esgueirar da tristeza, uma forma de se desligar, e preservar apenas o que de bonito houve até ali.
Houve tempos em que nem sequer tinha consciência. E por não a ter autorizava-se a soberba de pensar que esse era um mérito. Hoje, não. A mulher sabe como é falível, aprecia e deixa-se estar na imperfeição do seu movimento de fuga. Aprendeu a reconhecer o seu consolo pela clareza, ela não teme o confronto de dizer adeus e estremece um pouco menos pela ideia de um último definitivo.
A mulher despede-se olhando para diante.
É toda uma esperança de diferença.