Provas de Resistência

Era a segunda vez em seis meses que se sentava naquela cadeira. Sabendo que iria ter de ter paciência, usava (pela segunda vez também) o seu sorriso mais simpático (pode ser que funcione).
Expôs o seu caso de novo, repetiu a sua história académica, reafirmou a sua vontade de concluir a licenciatura mais de vinte anos depois, voltou a exibir, obediente, a certidão de exames e concluiu que, tal como lhe haviam dito seis meses antes, aqui estava ela para saber o que faltava para terminar o seu curso superior.

– Não, não… (disse a funcionária, pegando na certidão como se fosse papel higiénico), vai ter de voltar lá para Junho e solicitar o re-ingresso.

– Mas não me sabe dizer o que terei de fazer para completar a licenciatura?

– Claro que não minha senhora (repetiu a funcionária, agora usando a certidão como se fosse um leque de plástico usado comprado numa feira). Só após solicitar o re-ingresso é que será avaliada a sua situação por uma comissão de creditação. Depois disso será informada do que terá que completar.

(ainda paciente) E sabe-me dizer a partir de que dia devo vir para pedir o re-ingresso?

(franziu a boca como se fosse uma evidência) Não, ainda não tenho datas. Mas a senhora, se tiver acesso, vá visitando o site… deve ser lá para meados de Junho, mais ou menos.

Abandonou o edifício moderno e bonito da Faculdade com um pensamento a saltar na sua cabeça: ‘num país em que a educação faz tanta falta, é extraordinário como é difícil procurar o conhecimento; e se o é para pessoas de 40 anos que realmente querem, como deve ser fácil desistir quando se tem 20 anos, uma fronteira tão perto e o mundo lá fora, cheio de interesses, aos pés.’

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